POR GIANE GATTI, COLUNISTA DE PLURALE
JORNALISTA E ESCRITORA
Vi a exposição "Genesis" de Sebastião Salgado na Fundação GoodPlanet, nos arredores de Paris. A ONG é presidida pelo francês fotógrafo, cineasta e amigo de Salgado, Yann Arthus-Bertrand. Os dois são imortais da Academia de Belas Artes sa. A foto oficial de Salgado no site da Academia foi tirada por Bertrand, que também fez o discurso de boas-vindas ao brasileiro em 2016.
Salgado costumava participar dos leilões organizados por Bertrand com o objetivo de angariar verba para a fundação GoodPlanet. Alguns dos prêmios eram almoços com personalidades, aulas com fotógrafos, entre outros.
A foto deste artigo foi tirada, em outubro de 2019, na Academia de Belas Artes sa. O convite para eu ir a um evento no local para assistir à cerimônia de posse de novo representante veio de Bertrand. Salgado havia acabado de receber o Prêmio da Paz concedido pela Federação do Comércio Livreiros alemães, um dos mais importantes na área cultural daquele país. Pedi a ele uma entrevista, mas eu ficaria poucos dias em Paris, e haviam vários outros pedidos para conversar com ele. Com o tradicional jeitinho mineiro de ser, ele disse: "Menina. Ah! Não vai dar. A minha agenda está lotada e já estou com viagem marcada".
Sebastião Salgado registrou as desigualdades da nossa sociedade, em particular, o sofrimento humano, além da exuberância da natureza e a singularidade de povos indígenas - suas maneiras de viver e os riscos que correm com o desmatamento, a mineração ilegal, extração da madeira, invasões, entre outros. O fotógrafo fez várias campanhas de conscientização sobre a importância de proteger a Amazônia.
Durante a pandemia, ele me enviou vídeos por whatsapp sobre a necessidade de apoiar a Bancada do Cocar e o videoclipe da música My only love do artista Moby, com a mensagem de que "as indústrias da carne e de laticínios são as principais causadoras do desmatamento".
Levei o artista francês Saype à exposição "Amazônia" de Sebastião Salgado em 2022, no Museu do Amanhã. Ele estava na cidade para criar uma de suas pinturas gigantes nas areias da praia de Copacabana. Visitamos a mostra e logo depois deixei ele e sua equipe no aeroporto para pegar o voo de volta à Europa. Saype ficou impressionado com as fotos das tribos indígenas e com o fenômeno dos Rios Voadores, ilustrado com belas imagens da Terra Indígena Macuxi, Raposa Serra do Sol em Roraima.
O instagram do Rioshow informou que ele morreu uma semana antes da inauguração da sua exposição "Trabalhadores" na Casa Firjan, com 149 fotografias "que retratam as diferentes faces do trabalho ao redor do mundo".
Salgado deixa importante mensagem de que é o momento de agirmos. Ele deu seu exemplo prático com a criação da ONG Instituto Terra, que atua na conscientização ambiental e no plantio de árvores nativas na Mata Atlântica. Que nos inspiremos em seu amor pela humanidade e pela natureza.