Por Luiz Antônio Gaulia, Colunista de Plurale
O princípio gerador do ESG é a responsabilidade social corporativa (RSC). Parece uma constatação simplista, mas, no meu humilde entendimento é o pilar principal que deve ser cuidado, defendido e compreendido.
O “S” do ESG tem relação com o social e “social” tem relação com gente, com as pessoas, portanto, com cada um de nós. É disso que se trata a tal responsabilidade social corporativa: gente. Pessoas conscientes de que suas decisões e atitudes afetam outras pessoas, numa vasta rede de relações humanas.
É evidente que inseridos no ambiente, interferindo nos ecossistemas e sendo parte da governança corporativa, essas mesmas pessoas fazem a economia crescer, estagnar ou minguar. Me parece lógico que não importam muito as siglas, os rótulos e demais jargões da moda, o mais importante é saber que são pessoas que no final do dia poderão agregar ou dilapidar valor dos negócios, das empresas, instituições. Sejam elas públicas ou privadas, nacionais ou multinacionais.
A responsabilidade social é assim algo muito além do mercado. Mesmo porque “mercado”, “companhia” ou mesmo “governo” é como uma espécie de máscara que esconde as verdadeiras pessoas ocupantes de cargos executivos ou mandatárias de funções que representam eleitores, contribuintes e cidadãos. E por falar em cidadania, bons cidadãos serão bons profissionais por essência, principalmente ao se relacionar com outras pessoas interagindo em diferentes posições de poder e esferas de influência. Dizem alguns consultores que profissionais são contratados pelas suas qualificações técnicas, mas só permanecem nas empresas pelas suas habilidades relacionais. De qualquer modo, são as pessoas que fazem a responsabilidade de seus atos impactar positivamente ou negativamente na vida em sociedade.
Um alto executivo de uma companhia pode ser uma pessoa desonesta, comprometendo toda a governança corporativa assim como um mau juiz pode decidir um processo e comprometer a crença na justiça e na legalidade. Um técnico operacional pode realizar um conserto de forma desleixada e causar um acidente. Um líder de equipe pode assediar uma funcionária e destruir a confiança e o clima de trabalho. A responsabilidade social corporativa é assim um reflexo das pessoas e suas atitudes diárias, dentro da hierarquia e do grau de poder. A RSC faz parte da cultura organizacional e seu jeito de ter maior ou menor cuidado, prudência, atenção ao zelo e busca permanente pela excelência.
Voltando ao ESG é a responsabilidade social, enquanto interação permanente entre pessoas que influenciam e são influenciadas, o princípio gerador de um querer cuidar que eu sempre disse ser a definição da sustentabilidade, antecedente do ESG. E como o mundo não estaciona, o termo ESG entra numa fase sob forte artilharia com debates multifacetados e que acabam por separar, mais do que unir as pessoas. Tudo perfeitamente normal, uma vez que nós mesmos, cidadãos do mundo também mudamos de opinião ao longo da vida.
Diante dessa ótica, aquilo que nunca pode acabar é a nossa responsabilidade ou nossa “habilidade de resposta” diante das inúmeras questões e dilemas sociais que nossas escolhas irão provocar. Somos nós os responsáveis. Quanto maior o poder, maior a responsabilidade.
(*) Luiz Antônio Gaulia é Jornalista, consultor em ESG e RSC. Professor do IBMEC no MBA de Sustentabilidade. Professor da UnIBP no Programa Offshore da Indústria de Óleo e Gás.